Interesse Público

quarta-feira, maio 10, 2006

O culto da saudade...



No país do "Fado", o conceito saudade está presente em quase tudo aquilo que fazemos e sentimos...
Na política, quem nunca ouviu dizer "no tempo do Salazar é que era bom", ou mesmo " isto só ia lá se voltássemos à monarquia". No trabalho, "o outro chefe era bem melhor que este", ou, "o horário que tinha dantes era o ideal, agora este...". No quotidiano, "o café de ontém sabia melhor", ou "férias como as que tive o ano passado é que....".

Mas não é só nestes campos que a saudade é mais sentida, obviamente que o é no afastamento físico de alguém de quem gostamos ou amamos, ou porque esse alguém foi viver para outro lugar longe, ou porque por qualquer motivo já não se encontra entre nós... Quando estamos perante o primeiro caso, a distância pode ser sempre encortada com um telefonema, e-mail, carta, etc. No segundo caso, é mais complicado haver algum contacto, sendo que há quem diga que é possível...eu cá tenho as minhas reticências....

Um dos motivos que nos leva a sofrer tanto com a distância física de alguém, está igualmente associado à educação religiosa que temos, e ou daqueles que vivem à nossa volta. Então, porque amamos Cristo? Adoramos Cristo porque ele morreu na cruz para salvar toda a humanidade,certo?! Pois, esta se calhar é a primeira resposta de qualquer cristão, católico... É esta resposta que me faz pensar e questionar porque não amamos Cristo pela sua bondade, compaixão e coragem, e fazemos desses valores as bandeiras da nossa vida?! Quem diz Cristo, diz o amigo e ou familiar que renasceu para outra vida...Porque é que ao invés de venerarmos a sua morte e desaparecimento não veneramos os seus actos em vida, e fazemos desses mesmos actos emblemas da nossa propria vida?!

Podemos escolher viver de duas maneiras a saudade pelos outros. Ou aceitamos aquilo que já não dá para mudar, e recordamos os nossos amigos desaparecidos de forma alegre e honrada, com jantaradas, brindes, convivios e outras festas. Ou por outro lado, resignamos o que aconteceu, e recordamos esses mesmos amigos em todas as datas simbólicas com missas e missinhas, com idas permanentes ao cemitério, etc, etc, etc.....

Sem duvida que a saudade nos entristece, principalmente se relacionada com o desaparecimento de alguém que amamos. Contudo, não devemos celebrar a morte, mas sim a vida!! E ao mesmo tempo celebrar a vida dessa pessoa, relembrar a sua maneira de estar neste mundo, pensar de que modo isso nos influencia, e o que posso retirar da maneira de ser dessa mesma pessoa para melhorar a minha/nossa maneira de ser. Ir ao cemitério, é sempre um acto compaixão, mas não de visita, pois o que está lá é apenas o corpo, a massa, aquilo que pertence a este mundo. Na realidade, a alma não está lá....Pedir uma missa em nome dela também pode ser um acto de amor, mas a homenagem será maior se formos jantar a um restaurante que essa pessoa gostava de ir, se organizarmos uma festa com os amigos dela, se utilizarmos frases/expressões nas nossas conversas, que ela utilizava.

A mensagem que quero deixar, é que é possível viver a saudade de outro com alegria e vivacidade, sem medo do amanhã! Nós que estamos cá, temos de aproveitar tudo aquilo que nos é proporcionado pela vida! Não podemos ficar presos no ontem! Temos de querer alcançar o amanhã, pois é lá que se encontra a felicidade e o verdadeiro amor....

1 Comments:

  • Partilho da mesma opinião que tu Miguel. Se há pessoas que nos dizem alguma coisa e se fica para sempre um pedaço delas connosco, então o essencial é poder dar a conhecer aos outros aquilo que de bom aprendemos com elas e o quão importante foi conhece-las.
    "As coisas visiveis são passageiras ao passo que as invisiveis são para sempre"

    beijinhos

    By Anonymous Anónimo, at segunda-feira, julho 17, 2006 2:04:00 da manhã  

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