Interesse Público

sexta-feira, outubro 12, 2007

Eu não recicli, porque...

EU NÃO RECICLO, PORQUE…

 

           Segundo dados da Resioeste, o concelho da Lourinhã é o que apresenta a maior taxa de reciclagem comparado com os outros concelhos abrangidos pelo Aterro Sanitário do Oeste (ASO). Mas essa taxa corresponde apenas a 5,00 % de todos os resíduos produzidos no nosso concelho (dados de 2006).

           De acordo com um estudo encomendado pela Sociedade Ponto Verde sobre “Atitudes e comportamentos em relação à separação de lixo/embalagens usadas», realizado em todo o território nacional, as famílias que não reciclam apresentam como argumentos:

           - 71% a falta de recipientes próprios

           - 48% excessivo trabalho

           - 36% distância aos ecopontos

           Hoje em dia não há justificação para não reciclarmos, em especial no concelho da Lourinhã: existem ecopontos, existe um sistema de recolha e empresas que recebem os resíduos para os reciclar.

           Os motivos apresentados pelos “resistentes” à reciclagem têm fundamentação em erros do passado ou em situações pontuais. Assim, analisamos e respondemos a cada um desses argumentos, e deixamos sugestões para que não se continue a dizer

“Eu não reciclo, porque…”

 

…a câmara recolhe tudo junto.

           A recolha dos ecopontos é assegurada pela Resioeste. Cada carro só recolhe um tipo de resíduo, sendo necessário a passagem de três carros para despejar um ecoponto. Só deste modo se assegura a continuidade da separação de resíduos feita em casa.

           A Câmara Municipal da Lourinhã (CML), mantém alguns ecopontos (contentores azuis e verdes idênticos aos de resíduos sólidos urbanos) em locais onde não há espaço / acessibilidade para o ecoponto da Resioeste e os veículos procederem à sua recolha. A recolha destes ecopontos é da responsabilidade da Câmara, sendo feito com um carro próprio cedido pela Resioeste. Algumas pessoas não “vêm” estes contentores como ecoponto, colocando sacos de lixo, o que acaba por contaminar os resíduos recicláveis e inviabilizar a sua recolha para reciclagem.

 

…não tenho ecoponto perto de casa, ou estão sempre cheios.

           O concelho da Lourinhã é o que apresenta maior número de ecopontos por habitante (1 eco/197 hab), na área do ASO. Portanto se não há um ecoponto mesmo ao lado da sua casa, não pode estar muito longe.

           Quando estão cheios qualquer pessoa pode telefonar para a Resioeste, alertar para o facto e solicitar a recolha. No entanto, para quem se desloca de automóvel com frequência, pode sempre colocar os resíduos separados no carro e quando passar por um ecoponto depositá-lo.

 

…ocupa muito espaço em casa.

           O volume de resíduos produzidos não aumenta por passar a reciclar. Se produz 30 l de resíduos por dia, e todos os dias coloca o saco de lixo no contentor, a diferença é que esses 30 l vão ficar distribuídos em 4 sacos de 7,5 l cada e provavelmente não necessitará de ir logo colocá-los no contentor. Por isso o volume só aumenta, porque na realidade irá aumentar o intervalo de tempo entre idas ao ecoponto e caixote do lixo.

 

… não tenho ecoponto doméstico.

           Não é preciso ter ecoponto doméstico para reciclar. Basta apenas ter vontade!

           Pode utilizar sacos de compras (de plástico ou papel) ou caixas de cartão, para separar e transportar os resíduos. Pode guardar os resíduos separados debaixo do balcão da cozinha, ou na despensa, ou na varanda ou logradouro.

           Se faz questão de ter um ecoponto doméstico, a CML distribui gratuitamente, basta dirigir-se à Divisão de Ambiente (DSUMA) com a última factura da água.

 

… conheço muitas pessoas que não o fazem. Quando todos reciclarem eu também o farei.

           O que a maioria faz não quer dizer que seja o correcto, e por mais pessoas que conheça que não reciclam, também conhecerá algumas que reciclam. Porquê seguir o exemplo da quantidade e não o da qualidade?

           Todos os sistemas de gestão de resíduos são sistemas em cadeia. Cada um de nós representa um elo que contribui para a eficiência do sistema. Como tal, apesar do contributo individual parecer insignificante, é o resultado de todos que torna visível o esforço de cada um.

          

          

           A consciência ambiental é um valor social que ao ser reconhecido e enfatizado será factor de diferenciação positiva. Reciclar é um compromisso com o ambiente que não se esgota numa ida ao ecoponto, e que deve ser visto como a última etapa duma estratégia de redução e de reutilização. A capacidade de minimizarmos o problema na origem, reduzindo a produção de resíduos ou escolhendo produtos “amigos do ambiente” ou com potencial de reutilização, será factor determinante para a eficiência de qualquer sistema de gestão de resíduos.

           O envolvimento de todos é importante, porque o problema dos resíduos é transversal a todos os sectores de actividade – reduzir, reutilizar e reciclar são objectivos que devem ser aplicados tanto em casa como no comércio, na agricultura, nas empresas, nas escolas, etc. É preciso ser exemplo e dar testemunho para que também outros se juntem a esta causa e se oiça cada vez menos “Eu não reciclo…”.

 

Filomena Frade

quinta-feira, outubro 04, 2007

FW: Uma curiosidade....

O espírito poisou no Oeste



KÁTIA CATULO
DIANA QUINTELA (imagem)

Há um novo habitante nas terras do Bombarral que veste calças de linho, túnicas coloridas e anda por aí a dizer que a espiritualidade é a base de tudo na vida. Chegou à região do Oeste há ano e meio com uma missão específica: apresentar ao mundo o novo paradigma que a sociedade terá de adoptar como a única saída para a paz, o fim da pobreza ou da destruição ambiental. Para quem pensa estar perante mais um solitário naufragado nas suas utopias, Alfredo Sfeir-Younis avisa: "Não saí de um mosteiro ou de uma gruta, venho do Banco Mundial e uso a economia espiritual para promover a auto-cura do mundo."

Nascido no Chile, há 59 anos, o economista ambiental passou décadas a viajar por grande parte do mundo, trabalhou quase 30 anos no Banco Mundial, mas vive agora numa aldeia do Bombarral: "Columbeira foi uma descoberta do destino. Não tenho outra residência no mundo nem no meu país ou nos Estados Unidos onde vivi 34 anos."

É na Columbeira que Sfeir-Younis desenvolve o seu trabalho. "Tenho uma instituição, que não precisa de prédios nem delegações e não tem fins lucrativos - o Instituto Zambuling para a Transformação Humana". Traduzindo para uma linguagem tão terrena quanto possível, quer dizer que o economista persegue a transformação humana a nível mundial: "Zambuling significa mundo em tibetano. Isto é, a modificação para o qual eu trabalho tem de ser a nível global."

Despertar a consciência colectiva é, portanto, a meta do chileno: "A nossa realidade é produto de uma consciência colectiva e a economia espiritual assenta em valores que são comuns a todos nós como a paz, a tolerância, a segurança ou a igualdade."

O problema, adverte, é que uma boa parte dos que vivem neste planeta estão a milhas desse objectivo: "Vivemos preocupados em ter um carro só nosso, uma casa só nossa e por aí adiante. O capitalismo individualizou-se."

E se alguém pensa que estes conceitos são demasiado esotéricos, Sfeir-Younis desfaz o preconceito. A própria natureza do capitalismo assenta na espiritualidade, explica o novo habitante da Columbeira. Um exemplo prático é a melhor forma de arrumar os mais cépticos: "Quando coloco uma moeda numa dessas máquinas de revistas, sei que em troca há uma responsabilidade social de me devolverem um jornal", exemplifica o economista, esclarecendo que, sem essa condição, o sistema cai por terra. "A crise do modelo capitalista é justamente a quebra de confiança. Agora temos medo de viajar, de conhecer outros países porque não sabemos se no próximo minuto vai explodir uma bomba."

Mas teremos nós de abdicar de tudo o que é bom na vida para alcançar o novo paradigma? A resposta do ex-economista do Banco Mundial é um suspiro de alívio para quem pensava que teria de deixar de beber Coca-Cola ou desistir de ter o último modelo de telemóveis de terceira geração: "Não condeno uma pessoa por ter um carro topo de gama. O problema é se a sua felicidade depende de ter ou não um automóvel de luxo."

Afinal, explica Sfeir-Younis, todos os produtos que consumimos têm uma força espiritual: "O sofá onde me sento foi feito por uma pessoa, a camisa que visto foi costurada por vários empregados de uma fábrica têxtil e cada objecto é a tradução do espírito de quem investiu o seu tempo para o fabricar."

O equilíbrio está então em repartir o material e o espiritual em doses iguais. Este é o novo paradigma que Alfredo Sfeir-Younis defende: "Temos de procurar tanto o que está fora como o que está dentro de nós e vice-versa." E para isso basta valorizar um pouco mais o nosso "poder interior". No fundo, trata-se de desconstruir aquilo que a medicina chama de efeito placebo: um médico receita um medicamento a um paciente que nada tem porque sabe que ele acredita nas propriedades terapêuticas do remédio e vai sentir-se curado: "Essa crença é o poder interior que faz dinheiro, faz casas, faz um país, e as suas políticas."

Resta saber se a voz do chileno conseguirá atravessar a aldeia do Bombarral e chegar a outras paragens: "Tenho de fazer as coisas ao gosto e ao tempo dos portugueses", diz Alfredo Sfeir-Younis.